segunda-feira, 26 de abril de 2010

Infância


Aquela criança de grandes e curiosos olhos castanhos me observa como se tentasse me fazer notar algo que eu realmente deveria ter visto.Tento descobrir algo em meio a aquele constrangedor olhar infantil que pesa tanto em minha mente quanto algumas das várias acusações que verdadeiras ou não, foram fortes o suficiente a ponto de me dobrar e fazer-me redimir por pecados ainda não cometidos.


Mas além de inocente aquele olhar é tão raso e novo quanto a alma daquele pequeno ser observador.Finjo não notar, porém não é o suficiente para fazê-lo recuar.Nunca dá realmente certo se manter na defensiva com as crianças, porque quando elas se cansam ou apenas se entediam, são até capazes de fingir não saber, porém a qualquer momento, por mero descuido vocês acabam se cruzando, e enquanto você finge que é verdade ela finge que acredita e no final das contas correr ou revidar não acabaria apenas sendo sua confissão, mas algo muito mais próximo do inferno. Logo sabemos que quando esse olhar é compreendido surgem perguntas e delas respostas que só necessitavam de uma pequena brecha para jorrar, e quem seria capaz de notar a sutil maldade infantil que na maioria das vezes é confundida com "franquesa" ou " inocência". Como não há nenhuma fuga aparente penso em rasgar o céu noturno na triste ilusão de tocar uma estrela, um dia as nuvens não parecem ser mais de algodão e deixamos com o passar do tempo a correr atrás do mundo ao invés de deixá-lo fazer voltas ao nosso redor. Só aquele olhar opaco frustrado de quem entende quando uma guerra é perdida permanece, esperando sua hora de começar a correr.

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